quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Espectros matinais




Hoje, ainda cedo, quando as almas da cidade descançavam libertas de suas identidades. Eu sentia uma dor tristonha e luminosa a lembrar da posse de meu coração. Ainda sobre a cama, assisti ao clarão da manhã a percorrer pelas frestas das janelas o azul de Krisna dando formas e cores ao que antes estava incógnito entre as pálpebras do dia. Musa ou ninfa? As
luzes me tocavam iluminando e dando forma ao barro do meu corpo e no momento tudo era o azul matinal da saudade da noite e da entrega ao dia.
Sou lama, sou barro a procura das mãos luminosas que me moldarão ídolo ou totem. Sofrendo o amor, modelando o barro de meu corpo, idolatrando células e criando e recriando Criadores. Minha cama-congá, meu corpo estátua e meu coração fiel e esperançoso como a criança que une as palmas e soletra rezas inteligíveis. Essa foi a primeira oração de palavras fora da razão, de pastores à reger a natureza dos sentimentos e instintos, de um silencioso azul sobre berço de sonhos aconchegantes, que fiz à você.

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